DOS PEIXES QUE HA N’AGUA SALGADA
Peixe boi — Este peixe he nestas partes real, e estimado sobre todos os demais peixes, e para se comer muito sadio, e de muito bom gosto, ora seja salgado, ora fresco; e mais parece carne de vacca que peixe. Já houve alguns escrúpulos por se comer em dias de peixe; a carne he toda de febras, como a de vacca, e assi se faz em taçalhos e chacina, e cura-se ao fumeiro como porco ou vacca, e no gosto se se coze com couves, ou outras ervas sabe á vacca, e concertada com adubos sabe a carneiro, e assada parece no cheiro, e gosto, a gordura porco, e também tem toucinho.
Este peixe nas feições parece animal terrestre, e principalmente boi: a cabeça he toda de boi com couro, e cabellos, orelhas, olhos, e lingoa; os olhos são muito pequenos em extremo para o corpo que tem; fecha-os, e abre-os, quando quer, o que não têm os outros peixes: sobre as ventas tem dous courinhos com que as fecha, e por ellas resfolega; e não pode estar muito tempo debaixo dágua sem resfolegar; não tem mais barbatana que o rabo, o qual he todo redondo e fechado; o corpo he de grande grandura, todo cheio de cabellos ruivos; tem dous braços de comprimento de hum covado com suas mãos redondas como pás, e nellas tem cinco dedos pegados todos huns com os outros, e cada hum tem sua unha como humana; debaixo destes braços têm as fêmeas duas mamas com que criam seus filhos, e não parem mais que hum; o interior deste peixe, e intestinos são propriamente como de boi, com fígados, bofes, &.. Na cabeça sobre os olhos junto aos miolos tem duas pedras de bom tamanho, alvas, e pesadas: são de muita estima, e único remédio para dôr de pedra, porque feita em pó e bebida em vinho, ou água, faz deitar a pedra, como aconteceu que dando-a a huma pessoa, deixando outras muitas experiências, antes de huma hora botou huma pedra como huma amêndoa, eficou sã, estando dantes para morrer. Os ossos deste peixe são todos massiços, e brancos como marfim; faz-se delle muita manteiga, e tirão-lhe duas banhas como de porco; e o mais da manteiga tem no rabo, o qual sendo de largura de quatro palmos, ou mais todo se desfaz em manteiga; he muito gostosa, e para cozinhar e frigir peixe, para a candêa serve muito, e também para mezinhas, como a do porco; he branca, e cheirosa; nem tem cheiro de peixe. Este peixe se toma com arpoeiras, achão-se nos rios salgados junto d’agua doce: comem huma certa erva que nasce pelas bordas, e dentro dos rios, e onde ha esta erva se matão, ou junto de olhos d’agua doce, a qual somente bebem; são muito grande: e alguns pesao dez, e outros quinze quintaes, e já se matou peixe que cem homens c não poderão tirar fora dágua, e nella o desfizerão.
Bigjuipirá — Este peixe Bigjuipirá se parece com solho de Portugal, e assi he cá estimado, e tido por peixe real; he muito sadio, gordo, e de bom gosto; ha infinidade delles, ealgumas das ovas têm em grosso hum palmo de testa. Tomão-se estes peixes no mar alto á linha com anzolo; o comprimento será de seis ou sete palmos, o corpo he redondo, preto pelas costas, e branco pela barriga.
Olho de boi — Parece-se este peixe com os atuns de Espanha, assi no tamanho como nas feições, assi interiores como exteriores; he muito gordo, tem as vezes entre folha e folha gordura de grossura de hum tostão ; tirão-se-lhe lombos e ventrechas como aos atuns, e delles se faz muita eboa manteiga, elhetirão banhas como a porcos he peixe estimado, e de bom gosto, bem merece o nome de peixe boi assi na formo sura, como grandura; os olhos são propriamente como de boi, e por esta razão tem este nome.
Camurupig — Este peixe também he um dos reaes e estimados nestas partes: a carne he toda de febras em folha, cheia de gordura e manteiga, e de bom gosto: tem muita espinha por todo o corpo e he perigoso ao comer. Tem huma barbatana no lombo que sempre traz levantada para cima, de dous, três palmos de comprimento he peixe comprido de até doze e treze palmos, e de bôa grossura, e tem bem que fazer dous homens em levantar alguns delles; tomão-se com arpões; ha muitos, e faz delles muita manteiga.
Peixe selvagem — Este peixe selvagem, aqui os índios chamão Pirambá. se, peixe que ronca; a razão he porque onde andão logo se ouvem roncar, são de boa gran-dura até oito e nove palmos; a carne he de bom gosto, e são estimados; têm na boc-ca duas pedras de largura de huma mão, rijas em grande extremo, com elas partem os búzios de que se sustentão; as pedras estimão os índios, e as trazem ao pescoço como jóias.
Ha outros muitos peixes de varias espécies que não ha em Espanha, e commu-mente de bom gosto, e sadios. Dos de Portugal também por cá ha muitos, se tainhas em grande multidão, e tem-se achado que a tainha fresca posta a carne delia em morde-dura de cobra he outro unicornio. Não faltão garopas, chicarros, pargos, sargos, gorazes, dourados, peixe agulha, pescada, mas são raras; sardinhas com as de Espanha se achão em alguns tempos no Rio de Janeiro, e mais partes do sul; cibas, e arrayas; estas arrayas algumas delas têm na boca dous ossos tão rijos que quebram os búzios com elles.
Todo este peixe he sadio cá nestas partes que se come sobre leite, e sobre carne, e toda huma quaresma, e de ordinário-sem azeite nem vinagre, e não causa sarna nem outras enfermidades como na Europa, antes se dá os enfermos de cama, ainda que tenhão, ou estejão muito no cabo.
Balêa — Por esta costa ser cheia de muitas bahias, enseadas e esteiros açodem grande multidão de balêas a estes recôncavos, principalmente de Maio até Setembro, em que parem, e criam seus filhos, e também porque açodem ao muito tempo que nestes tempos he nestes remansos; são tantas as vezes que se vêem quarenta, e cincoenta juntas, querem dizer que ellas deitão o âmbar que achão no mar, e de que também se sustentão, e por isso se acha algum nesta costa; outros dizem que o mesmo mar o deita nas praias com as grandes tempestades e commumente se acha depois d’alguma grande. Todos os animaes comem deste âmbar, e he necessária grande diligencia depois das tempestades para que o não achem comido. He muito perigoso navegar em barcos pequenos por esta costa, porque alem de outros perigos, as balêas sossobrão muitos, se ouvem tanger, assi se alvoração como se forão cavallos quando ouvem tambor, e arremettem como leões, dão muitas á costa e dellas se fazem muito azeite. Tem o toutiço furado, e por elle resfolegão, e juntamente botão grande somma d’agua, e assi a espalhão pelo ar como se fosse chuveiro.
Espadarte — Destes peixes ha grande multidão, são grandes, e ferozes, porque têm huma tromba como espada, toda cheia de dentes ao redor, muito agudos, tão grandes como de cão, os maiores, são de largura de huma mão travessa, ou mais, o comprimento he segundo a grandura do peixe; algumas trombas, ou espadas destas são de oito e dez palmos; com estas trombas fazem cruel guerra ás balêas, porque alevantando-a para cima; dando tantas pancadas em ellas, e tão a miúde que he cousa de espanto, açodem ao sangue os tubarões, e as chupão de maneira até que morrem, e desta maneira se achão muitas mortas, em pedaços. També m com esta tromba pescão os peixes de que se sustentão. Os índios usao destas trombas quando são pequenas para açoutarem os filhos, e lhes metterem medo quando lhes são desobedientes.
Tartaruga — Ha nesta costa muitas tartarugas; tomão-se muitas, de que se fazem cofres, caixas de hóstias, copos, &. Estas tartarugas põem ovos nas praias, e põem logo duzentos e trezentos, são tamanhos como de gallinhas, muito alvos, e redondos como pelas; escondem estes ovos debaixo da arêa, e como tirão os filhos logo come-çao de ir para água donde se crião. Os ovos também se comem, têm esta propriedade que ainda se cozão, ou assem sempre a clara fica molle: os intestinos são como de porco, e têm ventas por onde respirão. Tem outra particularidade que pondo-lhe o focinho para a terra logo virão para o mar, nem podem estar doutra maneira. São algumas tão grandes que se fazem das conchas inteiras adargas; e huma se matou nesta costa tão grande que vinte homens a não podião levantar do chão, nem dar-lhe vento.
Tubarões — Ha muitos gêneros de tubarões nesta costa: achão-se nellas seis, ou sete espécies delles; he peixe muito cruel e feroz, e matão a muitas pessoas, principalmente aos que nadão. Os rios estão cheios delles, são tão cruéis que já aconteceu correr hum após de hum índio que ia numa jangada, e pô-lo em tanto aperto que saltando o moço em terra o tubarão saltou juntamente com elle, e cuidando que o apanhava ficou em seco aonde o matarão. No mar alto onde também ha muitos se tomão com laço, e arpões por serem muito golosos, sôfregos, e amigos de carne e são tão comilõesque se lhes achão na barriga couros,pedaços de panno, camisas, e ceroulas que caem aos navegantes; andão de ordinário acompanhados de huns peixes muito galantes, formosos de varias cores que se chamão romeiros; faz-se delles muito azeite, e dos dentes usão os índios em suas frechas por serem muito agudos, cruéis, e peçonhentos, e raramente sarão das feridas, ou com diff iculdade.
Peixe voador — Estes peixes são de ordinário de hum palmo, ou pouco mais de comprimento; têm os olhos muito formosos, galantes de certas pinturas que lhes dão muita graça, e parecem pedras preciosas; a cabeça também he muito formosa. Têm asas como de morcegos, mas muito prateadas, são muito perseguidos dos outros peixes, e para escaparem voão em bandos como de estorninhos, ou pardaes, mas não voão muito alto. Também são bons para comer, e quando voão alegrão os mareantes, e muitas vezes caem dentro das nãos, e então pelas janellas dos camarotes.
Hábitos alimentares
Os peixes pelágicos de pequenas dimensões como as sardinhas são geralmente planctonófagos, ou seja, alimentam-se quase passivamente do plâncton disperso na água, que filtram à medida que "respiram", com a ajuda de branquispinhas, que são excrescências ósseas dos arcos branquiais (a estrutura que segura as brânquias ou guelras).
Algumas espécies de maiores dimensões têm também este hábito alimentar, incluindo algumas baleias (que não são peixes, mas mamíferos) e alguns tubarões como os zorros (género Alopias). Mas a maioria dos grandes peixes pelágicos são predadores ativos, ou seja, procuram e capturam as suas presas, que são também organismos pelágicos, não só peixes, mas também cefalópodes (principalmente lulas), crustáceos ou outros.
Os peixes demersais podem ser predadores, mas também podem ser herbívoros, que se alimentam de plantas aquáticas, detritívoros, ou seja, que se alimentam dos restos de animais e plantas que se encontram no substrato, ou serem comensais de outros organismos, como a rémora que se fixa a um atum ou tubarão através dum disco adesivo no topo da cabeça e se alimenta dos restos de comida que caem da boca do seu hospedeiro (normalmente um grande predador), ou mesmo parasitas de outros organismos.
Alguns peixes abissais e também alguns neríticos, como os diabos (família Lophiidae) apresentam excrescências, geralmente na cabeça, que servem para atrair as suas presas; essas espécies costumam ter uma boca de grandes dimensões, que lhes permitem comer animais maiores que eles próprios. Numa destas espécies, o macho é parasita da fêmea, fixando-se pela boca a um "tentáculo" da sua cabeça.
Hábitos de reprodução
A maioria dos peixes é dióica, ovípara, fertiliza os óvulos externamente e não desenvolve cuidados parentais. Nas espécies que vivem em cardumes, as fêmeas desovam nas próprias águas onde os cardumes vivem e, ao mesmo tempo, os machos libertam o esperma na água, promovendo a fertilização. Em alguns peixes pelágicos, os ovos flutuam livremente na água − e podem ser comidos por outros organismos, quer planctónicos, quer nectónicos; por essa razão, nessas espécies é normal cada fêmea libertar um enorme número de óvulos. Noutras espécies, os ovos afundam e o seu desenvolvimento realiza-se junto ao fundo − nestes casos, os óvulos podem não ser tão numerosos, uma vez que são menos vulneráveis aos predadores.
No entanto, existem excepções a todas estas características e neste artigo referem-se apenas algumas. Abaixo, na secção Migrações encontram-se os casos de espécies que se reproduzem na água doce, mas crescem na água salgada e vice-versa.
Em termos de separação dos sexos, existem também (ex.: família Sparidae, os pargos) casos de hermafroditismo e casos de mudança de sexo - peixes que são fêmeas durante as primeiras fases de maturação sexual e depois se transformam em machos (protoginia) e o inverso (protandria).
Os cuidados parentais, quando existem, apresentam casos bastante curiosos. Nos cavalos-marinhos (género Hypocampus), por exemplo, o macho recolhe os ovos fecundados e incuba-os numa bolsa marsupial. Muitos ciclídeos (de que faz parte a tilápia e algumas famosas espécies de aquário endémicas do Lago Niassa (também conhecido por Lago Malawi, na fronteira entre Moçambique e o Malawi) guardam os filhotes na boca, quer do macho, quer da fêmea, ou alternadamente, para os protegerem dos predadores.
Refere-se acima que a maioria dos peixes é ovípara, mas existem também espécies vivíparas e ovovivíparas, ou seja, em que o embrião se desenvolve dentro do útero materno. Nestes casos, pode haver fertilização interna - embora os machos não tenham um verdadeiro pênis, mas possuem uma estrutura para introduzir o esperma dentro da fêmea. Muitos destes casos encontram-se nos peixes cartilagíneos (tubarões e raias), mas também em muitos peixes de água doce e mesmo de aquário.
Hábitos de repouso
Os peixes não dormem. Eles apenas alternam estados de vigília e repouso. O período de repouso consiste num aparente estado de imobilidade, em que os peixes mantêm o equilíbrio por meio de movimentos bem lentos.
Como não tem pálpebras, seus olhos ficam sempre abertos. Algumas espécies se deitam no fundo do mar ou no rio, enquanto os menores se escondem em buracos para não serem comidos enquanto descansam.
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